Digitalização dos sistemas financeiros tradicionais

Tecnologias nos Sistemas Financeiros: Como Evoluir a Segurança Para Acompanhar o Avanço Digital?

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Visão Geral

Após movimentar globalmente US$ 3,7 trilhões em investimentos em 2018, o mercado da tecnologia tem afetado até setores considerados tradicionais. O ramo financeiro é um deles. Com os sistemas predominantemente centralizados em bancos, o cenário financeiro vem recebendo diversas inovações destinadas a facilitar processos e proporcionar novas experiências, tanto para as instituições quanto para os clientes.

Criptomoedas, carteiras virtuais, expansão das máquinas de pagamento e compartilhamento de dados entre bancos e startups são apenas alguns dos movimentos em alta neste processo de transformação digital dos sistemas financeiros. Mas a partir do momento em que os fluxos e os envolvidos se modificam, como pensar em remodelar os aspectos de segurança?

“Esses novos modelos de negócios não se limitam ao serviço principal que o produto, ou serviço, oferece. Eles se apropriam de toda a tecnologia embarcada na solução. A inovação gera oportunidades e riscos, principalmente cibernéticos, que antes não existiam, mas que são inerentes aos seus processos de transformação digital”, diz Sebastián Quiceno, Gerente Comercial da Aon.


Análise

PANORAMA DAS TECNOLOGIAS FINANCEIRAS NO BRASIL

De acordo com levantamento realizado pela empresa de big data analytics Neoway, o Brasil possui 195 mil empresas atuantes no ramo de tecnologia, um crescimento de 17% se comparado ao mesmo cenário em 2017. Dessas, 30% atuam com suporte técnico e manutenção, 19% com desenvolvimento de programas e 16% com tratamento de dados e/ou serviços de hospedagem.

Especificando para as empresas voltadas às tecnologias financeiras, popularmente conhecidas como fintechs, a consultoria PWC realizou um mapeamento nacional. 25% atuam predominantemente com meios de pagamentos, 21% com créditos, financiamentos e negociação de dívidas, 8% com gestão financeira e apenas 6% com seguros.

Mesmo sendo o maior país da América do Sul com startups do ramo, o Brasil ainda possui uma visão limitada sobre este cenário. Para os entrevistados na pesquisa da PwC, a falta de visibilidade no mercado é a principal barreira de acesso a capital, o que faz com que o setor tenha impacto limitado na economia nacional.

Para o Banco Central brasileiro, a política de aplicação de novas tecnologias vem acompanhada de uma análise internacional. Quando as inovações ganham visibilidade mundial, elas chegam à visão governamental brasileira. Um bom exemplo é a aplicação de open banking no país: “temos olhado países da Ásia e Europa principalmente. Como isso é um processo novo inclusive lá fora, eles também estão em desenvolvimento, aprendendo e ajustando alguma questão e estamos acompanhando isso”, explicou Mardilson Fernandes Queiroz, Consultor do Departamento de Regulação do Sistema Financeiro do Banco Central, em entrevista, complementando: “o lado bom de não ter saído na frente é que acabamos observando e começamos de um nível diferente de quem está começando do zero, pela primeira vez. Tem sido bastante educativo para nós olhar para as experiências internacionais”.

Outro caso são as criptomoedas. Juntamente com os processos de observação do panorama global, a legislação no Brasil para esta inovação tem enfrentado etapas burocráticas. O projeto de lei para regularização das moedas digitais existe desde 2015 e segue sem definição, enquanto a autorização para investimentos de fundos nacionais em criptomoedas foi concedida apenas em 2018.

A INFORMAÇÃO COMO MAIOR VALOR

A principal alegação quanto ao risco na aplicação das tecnologias financeiras, tanto no Brasil quanto em outros países, é a preocupação com segurança. Além de entender o funcionamento das novas ferramentas de inovação, a transformação digital traz uma reflexão recorrente, independente da tecnologia a ser analisada: onde ficam os dados?

Enquanto os bancos tradicionais passavam a imagem de segurança por meio de cofres e infraestrutura, os sistemas financeiros digitais têm como prioridade atrelar segurança à informação. Seja por blockchain, criptomoedas, Paypal ou open banking, as discussões de aplicação envolvem, majoritariamente, proteção.

“Atualmente, um dos principais ativos das empresas são seus dados,” pontua Maurício Bandeira, Gerente de Produtos Financeiros e Responsabilidade Civil da Aon Brasil. “Por isso, é de suma importância que toda a organização esteja engajada em protegê-los. A segurança cibernética, por exemplo, é um tema que tende a se tornar cada vez mais recorrente, pois, independentemente do porte ou área de atuação, qualquer companhia está exposta a esse tipo de ameaça. A pergunta que se deve ter em mente não é se, mas sim quando ocorrerá um cyber ataque.”

“Um banco de dados distribuído, onde todos têm acesso aos registros subjacentes, não comporta uma boa segurança. As blockchains, em contrapartida, utilizam criptografia para garantir a segurança. Sem uma chave emitida pelo proprietário dos dados, é impossível extrair a informação subjacente. A criptografia é um bloqueio inquebrável”, complementa Stephen Mildenhall, Professor-assistente na Escola de Gestão de Risco, Seguros e Ciências Atuariais da Universidade St. John, de Nova York, em estudo para a Aon.

MODERNIZAÇÃO FINANCEIRA EXIGE RECURSOS

A digitalização dos sistemas financeiros tem ocorrido de forma gradativa. O Relatório de Pagamentos Mundiais (World Payments Report), realizado pelas consultorias Capgemini e BNP Paribas com executivos de instituições financeiras, apontou quais as principais facilidades que as fintechs já trouxeram ao setor. Dos entrevistados, 77,5% identificaram melhoria em relatórios e análises, além do uso da tecnologia Know Your Customer (KYC), que permite, por meio de dados, conhecer os clientes e avaliar os riscos potenciais conforme cada perfil; 69,9% apontaram avanços nos sistemas para Gestão Financeira Pessoal e nos programas antifraude e contra lavagem de dinheiro; e 64,8% destacaram as criptomoedas e seu potencial.

Em paralelo, as instituições bancárias também estão reconhecendo o potencial inovador das tecnologias e destinando mais recursos para modernização de seus setores. Segundo dados da Federação Brasileira de Bancos, em 2017,  o valor dedicado aos bancos para investimentos e despesas em tecnologia foi de R$ 19,5 bilhões, um crescimento de 5% em relação ao ano anterior.

Para Jeffrey Rieder, Chefe do Grupo Ward, empresa parceira da Aon, o último ano trouxe um momento positivo para novos investimentos em tecnologia, incentivando inovações promissoras e a profissionalização de mão de obra específica. “Os investimentos em tecnologia estão ocorrendo em um ritmo recorde. As fortes condições financeiras de 2018 abriram o caminho para um maior foco na otimização da experiência digital, o que impacta diretamente a experiência do cliente. Quando se trata de abraçar a mudança, não se pode soltar o pedal. Os líderes de negócios devem evoluir continuamente às práticas de longa data, usando inovações para impulsionar suas jornadas”.

Fontes:

Administradores

Computer World

IT Forum 365

MC Lagan – Aon

Pesquisa Fintech Deep Dive 2018

Revista Exame

StartSe