Pista Liberada Para Decolagem? Protegendo a Infraestrutura Contra o Risco de Inundação

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Visão Geral

Grandes tempestades, acompanhadas por ventos e inundações, ameaçam vidas, destroem propriedades e danificam importantes infraestruturas. Falta de energia, linhas de comunicação interrompidas e paralisações no transporte rodoviário, ferroviário, marítimo e aéreo são comuns após grandes tempestades, afetando tanto os negócios quanto a vida cotidiana.

Entre os danos causados pelo furacão Florence, em setembro, por exemplo, estava o fechamento de 200 rodovias na Carolina do Sul, incluindo uma parte da Interstate 95 – uma importante rodovia que conecta a costa leste dos EUA. Autoridades da Carolina do Sul estimaram que a tempestade causou um prejuízo de mais de US$ 300 milhões em danos de infraestrutura. Do outro lado do mundo, o tufão Jebi causou danos generalizados em todo o Japão, com as inundações que se seguiram levando ao fechamento de um dos aeroportos do país.

No Brasil, um caso recente chama atenção para o problema: o fechamento do Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, por contas das fortes chuvas que atingiram a cidade, em 2016. Em decorrência desse episódio, seis voos foram cancelados, 12 tiveram que alterar suas rotas e, tragicamente, duas pessoas morreram afogadas.

“Historicamente, ocupamos áreas vulneráveis que particularmente sofrem sem a revisão periódica de suas estruturas de escoamento fluvial. Para prevenir contra o risco de inundação, devemos adotar tanto medidas estruturais, como obras de escoamento, quanto as medidas não estruturais, que incluem a disseminação da educação ambiental”, explica Clemens Freitag, Diretor de Construção & Infraestrutura da Aon para América Latina.

Como esses tipos de tempestades e o aumento do nível do mar contribuem para um maior risco de inundação, os governos de todo o mundo estão procurando maneiras de proteger melhor as pessoas e as comunidades. “O risco de enchente é predominante em todos os lugares”, afirma Petr Puncochar, Cientista e Chefe de Desenvolvimento de Simulação de Inundação da EMEA e APAC na Aon.

Além de devastar as sociedades, nas últimas décadas as inundações levaram a um prejuízo de US$ 550 bilhões em impacto econômico. “Embora não possamos nos proteger totalmente das enchentes, trabalhar em todos os setores é fundamental para construirmos comunidades resilientes e preservarmos as infraestruturas importantes”, acrescenta Puncochar.

Com muitos dos aeroportos mais movimentados do mundo em uma baixa elevação – e outros muitos construídos perto da água em terrenos recuperados – esses hubs são excelentes exemplos de infraestrutura que precisam de proteção contra enchentes. Não surpreendentemente, as operadoras de aeroportos estão enfrentando o desafio.

Proteção das infraestruturas contra o risco de inundação


Análise

A passagem do tufão Jebi, em setembro, ocasionou o fechamento do Aeroporto Internacional de Kansai, na Baía de Osaka, no Japão. Construído em uma ilha artificial, o aeroporto, que movimenta quase 30 milhões de passageiros por ano, sofreu danos significativos ​​com a tempestade. Uma maré de tempestade violou o quebra-mar e inundou uma pista e um terminal, deixando milhares de passageiros e funcionários presos.

Kansai, um importante centro de distribuição internacional que serve várias cidades (incluindo Kobe, Kyoto e Osaka), ficou fechado por 10 dias e levou mais uma semana para restaurar as operações regulares. Para complicar a situação, havia o fato de que importantes instalações, como o centro de resposta a desastres e uma subestação elétrica, estavam localizadas em um porão no terminal e ficaram inundadas.

Os aeroportos são elementos fundamentais da nossa infraestrutura e, por isso, sua resiliência é essencial. Como o Conselho Internacional de Aeroportos (ACI) apontou em seu informe sobre políticas focado na resiliência dos aeroportos e na sua adaptação à mudança climática, “como um provedor de serviços essencial para uma ampla variedade de partes interessadas e usuários, a infraestrutura e o setor de operações de um aeroporto devem ter altos níveis de disponibilidade, confiabilidade e resiliência”.

TERRAS RECUPERADAS, MARÉ ALTA E O RISCO DE INUNDAÇÃO DOS AEROPORTOS

Kansai não é o único grande aeroporto construído em terras recuperadas. O Aeroporto Internacional de Brisbane, na Austrália, fica em uma área litorânea recuperada, assim como o Aeroporto Internacional de São Francisco, nos Estados Unidos, que está gradualmente afundando.

Outros aeroportos estão ameaçados simplesmente porque sua baixa altitude os coloca em risco de inundação. Um relatório recente feito pela Análise Nacional de Clima dos Estados Unidos constatou que 13 dos 47 aeroportos mais movimentados do país possuem pelo menos uma pista a menos de 4 metros do nível do mar. Ou seja, se o nível do mar continuar a subir, esses aeroportos enfrentarão uma grande exposição ao risco de inundação.

No Brasil, o Aeroporto Santos Dumont, localizado na cidade do Rio de Janeiro, é outro exemplo de infraestrutura que enfrenta grande exposição ao risco de inundação, principalmente por estar em área costeira e a apenas 3 metros do nível do mar.

Em geral, Puncochar observa a importância hidrológica dos aeroportos: pistas, corredores e outras instalações criam grandes áreas de superfície impermeável com capacidade zero de infiltração. “Durante as chuvas intensas, que estão cada vez mais violentas por causa da mudança climática, os aeroportos podem se tornar extremamente propensos a enchentes e inundações”. Isso, ele nota, pode aumentar a pressão sobre a administração do aeroporto para rever o quão eficaz é sua proteção contra inundações, especialmente porque algumas estruturas são de décadas atrás.

CONSIDERANDO OS RISCOS E PROTEGENDO OS ATIVOS CRÍTICOS

Como as estruturas enfrentam riscos causados ​​por rigorosos eventos climáticos e outros impactos potenciais, proteger a infraestrutura significa desenvolver resiliência a esses eventos.

Greg Lowe, Chefe Global de Sustentabilidade e Resiliência da Aon, ressalta a importância de proteger adequadamente esses ativos críticos – especialmente quando o risco está relacionado ao clima. “A resiliência é sobre estar preparado para lidar com impactos.” Observar a infraestrutura a longo prazo, afirma ele, é crucial e, por isso, “as cidades estão se perguntando se sua infraestrutura é adequada para o propósito ao longo de décadas”.

No caso dos aeroportos, o informe sobre as políticas da ACI, divulgado em setembro de 2018, adverte que eventos climáticos mais extremos “podem levar à transformação fundamental do sistema socioeconômico”. Para os aeroportos, “os riscos de inundações, cancelamentos de voos e interrupções torna-se mais provável.”

“Os aeroportos precisam entender os riscos e adotar medidas de adaptação para as novas e já existentes infraestruturas, bem como gerenciar as operações críticas para se tornarem mais resilientes às mudanças climáticas”, afirma o comunicado da ACI.

O informe da ACI também incentiva os operadores a examinarem todos os potenciais impactos dos eventos climáticos em suas instalações, para que possam priorizar e responder aos riscos. “Somente estratégias completas de gerenciamento de risco de mudanças climáticas garantirão a continuidade da operação, a lucratividade e o valor patrimonial”, explica o comunicado.

Gary Moran, Chefe de Aviação da Aon na Ásia, repete o conselho da ACI, e afirma que muitos operadores de aeroportos estão mostrando levar esse assunto a sério. “Estamos vendo cada vez mais atenção das operadoras para proteger contra os danos causados pelas enchentes e planejar sistemas de drenagem da água da chuva em aeroportos para que eles sejam adequados à finalidade”.

Danos causados pelas enchentes em aeroportos

COMO OS AEROPORTOS ESTÃO AUMENTANDO A RESILIÊNCIA

            À medida que as exposições pioram com o tempo, vários aeroportos estão tomando providências para lidar com os riscos de inundação. Autoridades do Aeroporto Internacional de São Francisco, por exemplo, instalaram quebra-mares e estão buscando outras medidas para proteger o aeroporto, incluindo um possível projeto de US$ 383 milhões, que incluirá ações para ajudar a estrutura a se defender contra novos aumentos no nível do mar até 2025.

O Aeroporto Internacional de Boston Logan, nos Estados Unidos, estabeleceu a meta de se tornar um modelo nacional de planejamento e implementação de resiliência entre as autoridades portuárias. As autoridades de Logan começaram a entender os possíveis impactos da mudança climática e tomaram providências para mitigar os riscos de inundação. Até agora, essas medidas incluem a compra de barreiras temporárias de defesa contra inundações, elevação dos equipamentos elétricos e mecânicos acima dos níveis de inundação previstos, vedação e impermeabilização de aberturas e encanamentos, instalação de sensores de água e de sistemas para fixar temporariamente cercas e barreiras contra inundações em situação de emergência.

Enquanto isso, o Aeroporto de Changi, em Cingapura, pavimentou novamente suas pistas para fornecer uma melhor drenagem e está construindo um novo terminal em um nível mais alto para proteger contra inundações à medida que o nível do mar aumenta.

Autoridades do Aeroporto Internacional de Brisbane também estão buscando construir mais alto, como uma nova pista que foi construída um metro acima do planejado originalmente. Ao mesmo tempo, um quebra-mar maior e um melhor sistema de drenagem também estão sendo planejados para lidar com os níveis mais altos do mar.

CONSTRUINDO RESILIÊNCIA ÀS TEMPESTADES

Os aeroportos são parte fundamental da nossa infraestrutura moderna, essenciais para conectar pessoas e empresas ao redor do mundo. Eventos que impossibilitam as atividades em um grande aeroporto podem ter um impacto econômico significativo.

Conforme os aeroportos de baixa altitude reconhecem os riscos associados à mudança climática e ao aumento do nível do mar, torna-se de extrema importância que eles comecem a desenvolver resiliência às tempestades e inundaçõ­­es. Com isso, eles conseguem fornecer lições às autoridades de outros lugares que estão procurando proteger outras formas de infraestrutura contra tempestades e outros perigos naturais.

*Este artigo foi adaptado do inglês