
Modelos climáticos para mitigar riscos na indústria da construção: uma visão da América Latina
5 de novembro de 2024
Em uma era de crescentes desafios relacionados ao clima, a indústria da construção está recorrendo a modelos climáticos avançados para fortalecer suas estratégias de gestão de riscos.
A implementação efetiva de modelos climáticos, baseados em estratégias sustentáveis, que vão desde o planejamento até a execução, é crucial para enfrentar as mudanças climáticas, melhorar a resiliência, proteger as comunidades vulneráveis e contribuir para a recuperação do impacto econômico causado a cidadãos, empresas e poderes públicos.
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Principais conclusões
- Aproveitar a modelagem climática é decisivo para uma gestão eficaz de riscos em cada fase do ciclo de vida de um projeto de construção.
- A aplicação de modelos avançados ajuda a mitigar os riscos e fomenta a resiliência, permitindo que as empresas de construção otimizem os resultados dos projetos a longo prazo.
- A implementação prévia de modelos climáticos e a orientação profissional sobre seu uso são fundamentais para gerenciar riscos complexos em projetos de construção.
- A América Latina avança no uso de modelos climáticos para garantir infraestruturas seguras e sustentáveis.
PANORAMA GERAL
Em 2023 e 2024, as catástrofes naturais afetaram comunidades ao redor do mundo. Eventos como terremotos, tempestades convectivas severas e inundações catastróficas interromperam os prazos dos projetos de construção e causaram grandes perdas financeiras para essa indústria. Agravada pelas ondas de calor recorde, a urgência de contar com estratégias de gestão de riscos centradas em mitigar os efeitos da mudança climática nunca foi tão grande.
Em resposta, as empresas de construção estão buscando informações sobre o efeito do clima em seus projetos e estão considerando o uso tático de modelos de risco para identificar e quantificar os perigos que poderiam afetar os projetos, impactar as decisões de design e construção, bem como entender as estratégias de transferência de riscos.
Para dimensionar a importância dos diferenças claras entre os modelos de catástrofes e os modelos climáticos:
- Os modelos de catástrofes utilizam dados históricos para simular milhares de eventos cientificamente prováveis e fornecer uma visão do potencial de perdas.
- Os modelos climáticos procuram representar a atmosfera acoplada com outros sistemas da terra, para assim conseguir compreender e projetar as mudanças naturais e provocadas pelo homem no clima. Gerar e executar um modelo climático é um processo complexo para o qual é necessário desenvolver equações matemáticas que simulam os processos naturais. Os dados utilizados são extremamente profundos em algo chamado como “resolução espacial e temporal”. Para a resolução espacial, o planeta é dividido em uma grade tridimensional e, em cada um dos quadros se aplicam as equações matemáticas e se avaliam os resultados, incorporando observações atmosféricas e oceânicas globais para mostrar como as condições ambientais podem influenciar em futuros eventos meteorológicos ou climáticos.
EM PROFUNDIDADE
Dados sobre as catástrofes naturais em 2024
Segundo o relatório sobre Clima e Catástrofes 2024 da Aon, este foi um ano histórico a nível global pelas perdas econômicas e seguradas derivadas de desastres naturais, que chegaram a 380 bilhões de dólares, 22% acima da média do século XXI, e perdas seguradas por um valor de 21 bilhões de dólares, 118% acima da média.
Os eventos mais notáveis incluíram terremotos devastadores na Turquia e na Síria, severas tempestades convectivas nos Estados Unidos, inundações na China e incêndios florestais generalizados. Pelo menos 95 mil pessoas perderam a vida por causa dessas catástrofes (quando a média do século XXI foi de 71 mil mortes). O maior número de mortes ocorreu pelos terremotos da Turquia e da Síria.
Excluindo os Estados Unidos, o continente americano sofreu perdas de 45 bilhões de dólares, onde o furacão Otis foi o evento individual mais caro, com indenizações superiores a 2 bilhões de dólares. A seca afetou várias regiões da América do Sul, e o Canadá sofreu uma temporada de incêndios florestais sem precedentes. Todos esses eventos climáticos interromperam os prazos de diversos projetos de construção e causaram grandes perdas financeiras para essa indústria.
Eventos climáticos extremos recentes na América Latina
1. Inundações: em 2022 e no primeiro semestre de 2023, fortes inundações afetaram países como Guatemala, Peru, Bolívia, Colômbia, Venezuela, Brasil e Equador, impactandomais de 5 milhões de pessoas e causando mais de mil mortes.
As inundações no Peru durante 2023 foram especialmente devastadoras, com chuvas torrenciais que provocaram deslizamentos de terra e danos à infraestrutura.
2. Secas: desde 2019, a América do Sul tem enfrentado algumas das secas mais severas em décadas, afetando países como Argentina, Uruguai, Honduras e Brasil. Essas secas tiveram um impacto significativo na agricultura e na segurança alimentar.
Em 2015, São Paulo viveu sua pior seca em mais de 80 anos, levando a cidade a uma crise hídrica crítica.
3. Incêndios florestais: em 2022 e 2023, foram registrados incêndios florestais devastadores na Argentina, Chile e na região do Pantanal (Brasil), com perdas econômicas significativas e centenas de mortes.
4. Ondas de calor: em 2022, a América do Sul experimentou ondas de calor prolongadas e intensas que contribuíram para condições secas, aumento do risco de incêndios florestais, e impactando a produção agrícola e a saúde.
5. Ciclones tropicais: o furacão Ian em 2022 causou danos estimados em aproximadamente 100 bilhões de dólares, <ahref=”https://www.eib.org/attachments/lucalli/20230142_climate_risks_for_latin_america_and_the_caribbean_pt.pdf//” target=”_blank” rel=”noopener” source=”Riscos climáticos para a América Latina e as Caraíbas: Estarão os bancos preparados para a transição ecológica? “>afetando principalmente países do Caribe . E em 2023, o furacão Otis, cujas consequências foram estimadas pela Aon.
6. Deslizamentos de terra: as fortes chuvas provocaram deslizamentos de terra em vários países, especialmente em zonas montanhosas. Esses deslizamentos resultaram em perdas humanas e danos a infraestruturas essenciais.
Seja na América Latina ou em outra região, frente ao caráter irreversível dos eventos climáticos, quando a indústria da construção adota práticas sustentáveis e resilientes, pode minimizar seus riscos e contribuir significativamente para um futuro mais sustentável.
“A gestão de riscos complexos em projetos de construção na América Latina é um processo dinâmico que requer um planejamento cuidadoso, colaboração interinstitucional e o uso de tecnologias avançadas. Ao adotar uma abordagem proativa para a identificação, avaliação e mitigação de riscos, a indústria pode melhorar sua resiliência diante de desafios climáticos e assegurar o sucesso de seus projetos a longo prazo”, explicou Clemens Freitag, Industry Leader, Construction & Infraestructure para a América Latina na Aon.
Aplicação de modelo climático em projetos de construção
A integração de modelos avançados de catástrofes e modelos climáticos nos marcos de gestão de riscos facilitará às empresas de construção a antecipação e abordagem de ameaças que causam os desastres naturais e a mudança climática. Os modelos climáticos e de catástrofes apoiam especificamente a indústria da construção nas seguintes áreas:
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- Avaliação dos riscos e ameaças do local: o modelo climático ajuda a entender o risco básico de construir em uma zona geográfica determinada, a avaliar os riscos climáticos atuais, identificar possíveis ameaças desde as primeiras fases de avaliação de riscos do projeto e sua evolução ao longo do ciclo de vida da construção. Isso inclui riscos específicos de cada região, como a subida do nível do mar para projetos costeiros e o calor extremo para projetos em zonas propensas ao calor.
- Tomada de decisões informada: ao fornecer informações abrangentes, os modelos climáticos facilitam a tomada de decisões informadas, mitigam os riscos (como a localização), ajudam a identificar as medidas físicas e a melhor resistência de um projeto desde as fases de design e construção, minimizando as interrupções e as perdas financeiras.
- Planejamento a longo prazo e preparação para seguros: os modelos climáticos calculam os riscos com décadas de antecedência, o que contribui para o planejamento a longo prazo; portanto, ajudam a entender como as ameaças podem afetar as estruturas ao longo de toda sua vida útil, impulsionando investimentos precoces em mitigação de riscos, mesmo desde a fase de design.
A modelagem também é utilizada na transferência de riscos, já que as companhias de seguros se baseiam em ferramentas sofisticadas de modelagem para a avaliação e gestão de riscos.
Exemplos de modelos climáticos latino-americanos na construção
Na América Latina, a indústria da construção está utilizando modelos climáticos avançados para guiar decisões e gerenciar riscos associados à mudança climática. A seguir, são apresentados exemplos relevantes desses modelos e abordagens.
- Modelos Atuariais para a Transferência de Riscos. A transferência de riscos em projetos de construção na América Latina é frequentemente realizada por meio do mercado internacional de resseguros. Por exemplo, no Equador, os projetos como o aeroporto e o sistema de metrô de Quito utilizam seguros do tipo “Todo Risco em Construção”, que permitem mitigar os riscos associados com desastres naturais e outros eventos climáticos adversos. Essa abordagem ajuda as empresas construtoras a gerenciar os riscos financeiros decorrentes de fenômenos climáticos extremos.
- Facilidade de Crédito Contingente para Desastres Naturais. O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) implementou soluções inovadoras como a Facilidade de Crédito Contingente para Desastres Naturais. Este instrumento financeiro é projetado para fornecer apoio imediato aos países em caso de desastres naturais, permitindo um planejamento mais eficaz e a transferência de riscos financeiros para mecanismos mais sustentáveis. Este modelo ajuda as entidades construtoras a avaliar e gerenciar os riscos associados aos seus projetos.
- Projeto CEELA (Construção Eficiente e Ecológica na América Latina) . É outra iniciativa que incorpora modelos climáticos avançados no design e na construção. Este projeto busca promover edificações sustentáveis que considerem as condições climáticas locais, integrando princípios de eficiência energética e conforto adaptativo. Por meio da capacitação e do desenvolvimento de edifícios modelo, a CEELA ajuda os profissionais do setor a tomar decisões informadas que minimizem o impacto ambiental e fortaleçam a resiliência diante da mudança climática a longo prazo.
- Caixa de Ferramentas para Resiliência Climática . O BID também desenvolveu uma “caixa de ferramentas para construir resiliência climática”, que fornece diretrizes e estratégias para integrar considerações climáticas no planejamento e execução de infraestruturas. Esta ferramenta é essencial para que as construtoras avaliem os riscos climáticos e adotem medidas proativas em seus projetos, assegurando assim um desenvolvimento sustentável.
- “Essas iniciativas foram criadas a partir dos resultados que os modelos climáticos apresentaram, mas sua aplicação é muito prática. Finalmente, o papel que esses modelos desempenham na indústria da construção, guiam as decisões estratégicas e facilitam a transferência efetiva de riscos”, assegurou Mario Ordaz, Cofundador da ERN, empresa mexicana de modelagem catastrófica que a Aon adquiriu há dois anos e Chief Scientific Advisor/Chairman do Board da Impact Forecasting.“Iniciativas como essas não apenas ajudam a mitigar os impactos negativos da mudança climática, mas também promovem uma abordagem mais sustentável no desenvolvimento da infraestrutura da região”, concluiu Ordaz.
Estratégias eficazes de modelos climáticos que os gerentes de riscos do setor de construção podem implementar
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- Assessoria especializada. Busque serviços de assessoria especializada que ofereçam técnicas inovadoras de modelagem adaptadas aos desafios específicos da construção.
- Adaptação de soluções de modelagem às fases do projeto. Utilize ferramentas que coincidam as soluções de modelagem com as diferentes etapas do projeto, garantindo uma avaliação integral dos riscos.
- Adoção de soluções de modelagem holísticas. Selecionar modelos integrais que forneçam perspectivas atuais e futuras sobre as catástrofes naturais e os impactos climáticos. Opte por programas holísticos de risco climático para navegar pelas incertezas da mudança climática, facilitando decisões informadas de gestão de riscos.
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“É essencial que as empresas ou os governos acessem consultores de riscos especialistas na indústria da construção, com os conhecimentos técnicos e as ferramentas necessárias para propor vias adequadas de mitigação de riscos em seus projetos de construção desde o início. Se considerarmos que, desde o momento em que se coloca a primeira pedra até a conclusão de um projeto de construção, podem passar meses ou até anos, e depois esse projeto terá uma vida útil muito longa, é vital assegurá-los contra riscos climáticos”, finalizou Freitag.
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