Greve diesel transporte de cargas

Transporte de Cargas: Como Superar as Crises?

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Visão Geral

Um país do tamanho do Brasil, com tantas regiões produtoras e consumidoras, certamente precisa de um sistema de transportes de cargas bem estruturado e eficiente para que a logística funcione. Seja pelos trilhos, ares, rodovias ou oceanos, a finalidade é distribuir, de forma homogênea, os bens para todas as regiões, contribuindo assim para o desenvolvimento econômico e a integração do país.

Hoje, segundo a CNT (Confederação Nacional do Transporte), o principal meio de transporte de cargas utilizado no Brasil é o rodoviário, que concentra 61,1% da movimentação anual. Em seguida estão os sistemas ferroviário (20,7%), aquaviário (13,6%), dutoviário (4,2%) e aéreo (0,4%).

Além disso, como grande parte do transporte ferroviário de cargas é dedicado a distribuição de minério e grãos, outros produtos básicos e indispensáveis para o consumidor, como alimentos e combustível, dependem quase que exclusivamente do transporte rodoviário feito por caminhões.

No entanto, apesar de ser o maior segmento do setor de serviços e ter um papel estratégico na economia brasileira, o transporte de mercadorias e a sua distribuição é um dos grandes desafios dentro da cadeia de suprimentos, principalmente devido aos altos índices de roubos e com a falta de estrutura nas estradas.

A cadeia de suprimentos (supply chain, em inglês) é um sistema de organizações, pessoas, atividades, informações e recursos que envolvem um conjunto de importantes atividades, como processos de compra, armazenamento, transporte, distribuição, entre outras. Por exemplo, quando uma cadeia de suprimentos é eficiente, ela é capaz de conectar todos os pontos dos negócios, distribuindo informações em tempo real e impactando positivamente toda a logística nacional.

Recentemente, um episódio de descontentamento marcou o país. Caminhoneiros autônomos uniram-se por todo o território nacional para protestar contra o alto preço do diesel e das taxas tributárias. A consequência foi um caos generalizado para as empresas, economia e população em geral.

Em casos como esse, percebemos a importância de uma cadeia de suprimentos bem planejada e implementada para gerar redução de prazos de entrega e prejuízos financeiros decorrentes da perda de mercadoria perecível. Prever e antecipar problemas desta natureza é o papel do setor de gerenciamento de riscos das empresas, que a cada dia que passa enfrentam um cenário mais desafiador.


Análise

Setor de Transporte de Cargas e o Desenvolvimento Econômico

De acordo com dados da CNT, o PIB (Produto Interno Bruto) do setor de transportes foi um dos que mais sofreu com a recessão econômica brasileira, que aconteceu entre 2014 e 2017. Após queda em dois anos consecutivos (-4,3% em 2015 e -6,8% em 2016), o PIB avançou 0,9% no ano passado, principalmente por conta do desempenho da atividade industrial e da safra recorde de 2016/2017, que aumentaram a demanda pelos serviços de transporte de cargas.

A tendência é que a economia brasileira continue se recuperando e gerando oportunidade para todos os setores. No entanto, para isso acontecer, torna-se necessária a ampliação da taxa de investimentos, principalmente em segurança e infraestrutura para o transporte de cargas.

Principais Desafios do Transporte Rodoviário de Cargas

O setor de transporte de cargas rodoviário, modal mais utilizado no Brasil, é também o que mais sofre com problemas de infraestrutura e segurança, o que acaba atrapalhando toda a logística de compra e venda dos bens. Confira os principais desafios do setor nos últimos anos:

Falta de Infraestrutura

Para se ter noção, de acordo com a CNT, o Brasil conta com mais de 1,7 milhão de quilômetros de malha rodoviária, divididos entre rodovias federais, municipais e estaduais. Desse total, cerca de 1,3 milhão de quilômetros não está pavimentado, ou seja, pouco mais de 78% de toda nossa malha rodoviária.

Além disso, grande parte das nossas rodovias que estão pavimentadas não são consideradas adequadas para tráfego, seja por conta de buracos, trincas ou remendos no asfalto. No ranking do Fórum Econômico Mundial 2017, o Brasil encontra-se na 103ª posição dentre os 137 países analisados no quesito qualidade da infraestrutura rodoviária.

Altos Custos

A alta carga tributária aplicada às operações logísticas é um grande problema enfrentado pelo transporte rodoviário de cargas. Dados mostram que o valor pago em impostos pelas empresas do setor chegou a quase 20% da receita bruta em 2015, o que dificulta o crescimento dos negócios e da economia como um todo.

Greve Diesel Transporte de CargasAlém disso, com o preço do diesel aumentando sucessivamente devido à instabilidade econômica do país, entidades do setor de transporte de cargas passaram a cobrar explicações e exigir mudanças das autoridades. De acordo com a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), somente no mês de abril, o preço médio do litro de diesel chegou a custar R$ 4,7 em algumas cidades brasileiras. Em maio, algumas cidades chegaram até a bater os R$ 5, fato que acabou desencadeando a Crise do Diesel 2018, conforme veremos mais para a frente.

Índice de Criminalidade

A alta taxa de criminalidade no país também vem afetando o setor de transporte de cargas no Brasil. Segundo dados da Firjan (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro), no acumulado entre 2011 e 2016, foram registrados 97.786 casos de roubos de carga no país, o que representa um prejuízo estimado de R$ 6,1 bilhões. Já em 2017, de janeiro a agosto, São Paulo registrou 7.282 ocorrências, enquanto o Rio de Janeiro teve 5.769 casos.

Em outro levantamento feito sobre a perspectiva global de riscos para 2017, o Brasil ficou na 8ª posição entre os países com o maior índice de insegurança no mundo, ficando atrás somente de países em guerra, como Síria e Afeganistão. O principal motivo para esse resultado foi o alto índice de criminalidade nas estradas.

“Esses números retratam um cenário assustador para todos nós, principalmente pela falta de perspectivas de mudança, por conta das incertezas do cenário político atual. Tudo isso acumulado com anos de falta de investimento e medidas de segurança eficientes que façam frente à criminalidade cada vez mais preparada e organizada”, explica Ricardo Guirao, Diretor de Transportes da Aon Brasil.

Greves no Setor de Transporte de Cargas

Por mais que o Brasil tenha uma matriz de transportes totalmente dependente do sistema rodoviário, a falta de investimentos e o custo dos insumos fazem com que esse setor ainda seja considerado deficiente e caro. Como consequência disso, motoristas autônomos e empresas do setor de transporte de cargas são obrigadas a lutar por melhorias, por meio de greves e manifestações.

Veja quais foram os episódios mais marcantes nos últimos anos:

Crise do Diesel 2018

A maior greve da história do país foi iniciada no dia 21 de maio e consistiu na paralisação e bloqueio de caminhoneiros autônomos nas rodovias em 24 estados e no Distrito Federal. No entanto, embora a greve tenha se encerrado, os efeitos delas deverão perpetuar ainda por muito tempo.

• Exigências: redução do preço do diesel, fim do pedágio para eixo suspenso, cobrança diferenciada de IPVA para autônomos e nova política de preço para todos combustíveis.

• Principais Consequências: desabastecimento de combustível, alimentos e remédios, paralisação de exportações e diminuição das linhas de ônibus pelo país.

• Resposta do Governo: redução de R$ 0,46 no litro do diesel por 60 dias, estabelecimento de uma tabela mínima dos fretes, isenção da cobrança de pedágio para eixo suspenso de caminhões vazios e suspensão de multas durante o período da greve.


Greve dos Caminhoneiros de 2015

Dividida em dois atos, a paralisação dos caminhoneiros contou com protestos e bloqueios em 12 estados no primeiro e no segundo semestre de 2015.

• Exigências: diminuição do preço do diesel, melhores condições de trabalho e pedidos de impeachment da atual presidente na época, Dilma Rousseff.

• Principais Consequências: atrasos nas entregas, problemas no trânsito e desabastecimento de combustível.

• Resposta do Governo: sanção sem vetos da Lei dos Caminhoneiros, proibição de interdições em rodovias e mais de 100 prisões efetuadas.

Greve dos Caminhoneiros de 1999

Ocorrida em julho daquele ano, a greve durou cerca de quatro dias e contou com a participação de mais de 700 mil caminhoneiros.

• Exigências: redução da tarifa de pedágios, isenção de impostos e regulamentação da aposentadoria.

• Principais Consequências: desabastecimento de alimentos e combustíveis pelo país.

• Resposta do Governo: preço do diesel e tarifa de pedágios foram congeladas, além da fixação do prazo máximo de 60 dias para a desativação das balanças, que pesavam caminhões e multavam os que ultrapassassem o limite de carga.

Seguro de Transporte de Cargas

Por conta de todos os desafios enfrentados pelo setor, as empresas estão cada vez mais preocupadas em evitar prejuízos e proteger as mercadorias de possíveis danos ou roubos. Neste cenário, o Seguro de Transporte de Cargas surge como uma alternativa eficiente para impulsionar o mercado e a economia brasileira.

Segundo dados da FenSeg, apenas entre 2016 e 2017, houve um aumento de 4% no valor dos prêmios diretos. Já em relação ao período de janeiro a março de 2017 e 2018, o crescimento foi 18,2%.

No entanto, por conta da alta criminalidade no Brasil, as seguradoras passaram a tomar providências internas para se proteger e manter a sinistralidade das apólices de seus clientes equilibrada. Um exemplo disso é a cobrança de uma taxa adicional de entrega no Rio de Janeiro, chamada EMEX (Taxa de Emergência Excepcional), que visa garantir novos processos de segurança ao embarque e minimização dos riscos.

“Algumas mudanças estão acontecendo no desenho das apólices, tornando as taxas mais elevadas. Em alguns casos, elas podem até triplicar o valor das notas. Em outros desenhos, menos flexíveis, as franquias de participação nos sinistros são aumentadas”, explica Guirao.

Além de proporcionar essa consultoria para gerenciar os riscos de acordo com os níveis de demanda e exposição das mercadorias, o Seguro de Transporte de Cargas também oferece coberturas adicionais, que caso contratadas podem cobrir as perdas e danos ocorridos com as cargas em situações específicas, como as greves.

“A Aon orienta os clientes a contratarem a cobertura adicional de greves sempre antes da existência de um evento. No nosso portfólio, 95% dos nossos clientes embarcadores (donos das cargas ou responsáveis legais) já possuem a cobertura inclusa no contrato de seguros”, explica Guirao.

Como visto, o momento é um dos mais desafiadores tanto para o setor de transporte de cargas quanto para o mercado segurador, que terá que desenvolver estratégias eficazes para as situações de crise, fazendo com que a logística do país funcione e a economia continue a girar.

Fontes

Carta Capital

Aon Brasil

Confederação Nacional do Transporte