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Reformas no Sistema de Saúde: Como Parcerias e Fusões entre Empresas Influenciam no Cenário?

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Visão Geral

Formando aproximadamente um quinto da economia e afetando mais de 320 milhões de americanos, a área da assistência médica tem um enorme impacto nos EUA. Seja pessoas buscando formas de proteger suas famílias ou trabalhadores enfrentando o aumento dos planos de saúde, a evolução do sistema de saúde é uma prioridade crescente em diferentes grupos da população.

Em dezembro de 2017, a rede de farmácias norte-americana CVS revelou planos de compra da seguradora Aetna em um acordo de US$ 69 bilhões. Poucas semanas depois, a gigante do varejo online Amazon, o conglomerado Berkshire Hathaway e o banco J.P. Morgan Chase anunciaram que formariam uma empresa conjunta sem fins lucrativos para oferecer planos de saúde a seus funcionários que, juntos, somam mais um milhão.

Uma vez que mais participantes não tradicionais entraram no mercado de serviços de saúde, o cenário já complexo poderia enfrentar ainda mais desafios – e oportunidades.


Análise

Atualmente, o gasto com planos de saúde é um dos problemas mais urgentes para as organizações do mundo, com custos globais que cresceram a uma taxa líquida de 5,4% em 2017, de acordo com a pesquisa da Aon.

O sistema de saúde dos EUA é uma questão política urgente, exigindo a criação de leis como a Affordable Care Act (ACA) (em português, Lei de Cuidados Acessíveis) e a mais recente Children’s Health Insurance Program (CHIP) (em português, Programa de Seguro de Saúde da Criança). Dois esforços notáveis para reformar o sistema de saúde dos EUA vieram do setor privado: os recentes acordos de M&A (fusão e aquisição) e os novos modelos introduzidos pela Amazon, Berkshire Hathaway e J.P.Morgan Chase, podem mudar radicalmente o funcionamento do sistema atual.

Jim Winkler, Diretor de Inovação da área Health and Benefits (Saúde e Benefícios) da Aon, observa que essas propostas têm a oportunidade não apenas de mudar o funcionamento de todo o sistema de saúde, mas também “redefinir a forma como as pessoas o acessam em suas comunidades”.

Winkler aponta especificamente duas tendências no ramo de saúde para 2018:

Tendências do Mercado para a Consolidação dos Sistemas de Saúde

Em 2017, o governo dos EUA recusou as tentativas da Aetna em adquirir a seguradora Humana, bem como a tentativa de fusão da Anthem e da Cigna. Ao mesmo tempo em que o governo americano bloqueou parcerias horizontais, ele também não impediu a integração vertical das seguradoras. A proposta de união da CVS/Aetna é apenas o início. A Optum, da UnitedHealth, empresa de planos de saúde primários e secundários, consultoria e análise de dados, planeja adquirir a operadora de centro cirúrgico DaVita Medical Group, sob acordo anunciado em dezembro.

De fato, um novo cenário pode estar se formando à medida que empregadores, sistemas de saúde, profissionais da saúde, seguradoras e farmácias se alinham em novas parcerias. “Os limites já não são tão nítidos”, diz Winkler.

Com essas consolidações, os principais interessados poderão expandir seus serviços ou até criar “centros de saúde” comunitários. Os pacientes já podem receber uma receita médica em uma janela de atendimento e obter uma vacina contra a gripe na próxima. No futuro, poderão obter ajuda de um especialista em seguros, marcar uma consulta médica e conversar com o gestor de casos sobre sua diabetes – tudo em um só local, com uma única chamada telefônica ou um toque na tela do celular.

Além das fusões e aquisições verticais, houve muitos acordos horizontais no setor de serviços. Hospitais estão comprando clínicas particulares, os sistemas de saúde estão incorporando hospitais e várias fusões propostas criariam cadeias hospitalares em uma dimensão jamais vista. Ao mesmo tempo, há casos como o da Kaiser Permanente, um consórcio de saúde gerenciada, que representa uma integração completa de hospitais, clínicas, médicos e outros provedores.

Tal como ocorre com as fusões e aquisições verticais, essas combinações fazem parte de uma estratégia para gerenciar a macroeconomia do sistema de saúde para volumes maiores de pacientes.

“O aspecto positivo é que ele cria um potencial de continuidade de assistência para os pacientes,” afirma Winkler. “O outro lado é que esses grandes sistemas de saúde ganham uma alavancagem significativa ao negociar seus contratos com planos de saúde. Isto é, definitivamente, algo que todos precisamos manter em foco”.

No entanto, simultaneamente, as seguradoras também parecem avançar para assumir uma identidade de marca de “sistema de saúde”. A Aetna, por exemplo, possui cinco parcerias com hospitais para formar Accountable Care Organizations (ACOs) (em tradução livre, Organizações de Cuidados Responsáveis). De fato, os operadores de saúde / ACOs hospitalares, como estes, têm crescido em todo o país. Essas consolidações provavelmente continuarão à medida que as empresas envolvidas assumirem o compromisso de redução de custos, principalmente para pacientes do sistema público de saúde Medicare e Medicaid.

Introdução de Novos Modelos para os Sistemas de Saúde Empresariais

O anúncio da Amazon, J.P.Morgan Chase e Berkshire Hathaway focou principalmente nas mudanças de tecnologia que poderão reduzir os custos dos serviços de saúde. As empresas não divulgaram detalhes, mas o jornal Wall  Street Journal observou a possibilidade de uma nova tecnologia de dados em  sistemas de saúde que melhora o rastreamento de pacientes fora dos cenários de  atendimento, tais como os hospitais.

É provável que, de alguma forma, a Amazon entre no varejo farmacêutico, de acordo com o New York Times. Outros imaginam uma abordagem “Dr. Alexa”, ou seja, o uso de inteligência artificial para orientações quanto a reclamações simples, como dor de garganta.

Tecnologia não é uma solução nova para as necessidades do ramo da saúde. Há anos, as seguradoras já têm usado a transparência de preços digitais e ferramentas de localização de provedores. Porém, as empresas focadas na tecnologia em saúde, a qual tem crescido em todo o país, possuem seus próprios planos para mudar a prestação de serviços médicos.

Por exemplo, o Google fez parceria com a Dexcom em 2015 para lançar monitores de glicemia de alta tecnologia. Dispositivos de uso pessoal (como os relógios Fitbit Ionic e Apple Watch) prometem uma maré imensa de novos dados de saúde. A Global Kinetics Corporation têm utilizado informações de dispositivos pessoais para tratar a doença de Parkinson. A utilização desses dados de primeira mão pode significar não apenas um conjunto de informações mais completo para os pesquisadores, mas uma gestão de saúde personalizada para os consumidores.

O potencial para as empresas de alta tecnologia se integrarem aos provedores de saúde é quase ilimitado (a Apple já fez parceria com a Mayo Clinic há alguns anos para desenvolver seu HealthKit (Kit de Saúde), que transfere os dados informatizados de saúde para os registros eletrônicos dos pacientes). É possível que essa integração vertical seja o início de uma nova era à medida que os principais sistemas de saúde, que conta com empresas de seguros e/ou farmácias, também promovam parcerias com empresas de tecnologia para a gestão de saúde dos pacientes.

Uma questão chave será qual identidade de marca de serviços de saúde mais atraente aos pacientes se, no futuro, tiverem mais opções de planos de saúde.

A complexidade do sistema de saúde dos EUA é única, e os contornos mudam continuamente de acordo com as tendências predominantes do mercado, políticas, demográficas e tecnológicas. Sobreviver a essas tendências pode ser uma tarefa difícil, mas é fundamental para aqueles que fornecem, pagam e utilizam o sistema.

“Os custos estão crescendo drasticamente, e as pessoas não estão tão saudáveis quanto deveriam estar. Esse é o problema principal que estamos tentando solucionar, e o mercado está mudando para se adaptar a isso,” diz Winkler. “Vamos aprender algumas lições, nos próximos cinco anos. E, embora não seja fácil, provavelmente teremos evolução progresso na ajuda às pessoas, bem como aos empregadores, no acesso aos cuidados certos no momento certo”.