Como a Blockchain Fortalece as Cadeias de Suprimento?

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Visão Geral

Em 1956, o proprietário de uma transportadora nos EUA, Malcom McLean, se reuniu com o engenheiro Keith Tantlinger para elaborar algo que revolucionaria o comércio mundial: o moderno contêiner de transporte marítimo. Agora, pouco mais de 60 anos depois, com processos de fornecimento cruciais e cada vez mais complexos, a cadeia de suprimentos global está prestes a dar outro passo adiante. Desta vez, com a ajuda da tecnologia: a blockchain.

O impacto da tecnologia nas cadeias de suprimentos e no setor de logística promete ser verdadeiramente revolucionário. De forma simples, a Blockchain – dados digitais compartilhados que permitem registrar e verificar transações em uma rede de computadores – aumentará a transparência da cadeia de suprimentos, reduzindo drasticamente os custos, principalmente a burocracia onerosa e complexa. Também aumentará a compreensão do fluxo global do comércio, rastreando itens específicos em cada etapa de seu trajeto e os riscos associados, permitindo uma melhor gestão e mitigação desses riscos. Enquanto ainda há dúvidas sobre como a blockchain será introduzida na cadeia de suprimentos, muitas empresas grandes e provedores de tecnologia já estão encontrando essas respostas.


Análise

A tecnologia já se tornou fundamental nas atividades diárias de empresas de logística. A aplicação de tecnologia à documentação e troca de informações ajudou muito essas empresas. “Hoje, a tecnologia e a informação movimentam a carga”, revela Lee Meyrick, Diretor Executivo de Global Marine (Dep. Marítimo Global) da Aon. Obter mais dados e extrair melhores análises a partir dessas informações pode melhorar a eficiência nas cadeias de suprimentos e no processo logístico.

A Blockchain fornece um mecanismo mais eficaz e definitivo para rastrear dados em cadeias de suprimento complexas. Dessa forma, aumenta a eficiência, reduz os erros humanos e esclarece as responsabilidades e obrigações ao longo da cadeia. Por exemplo, uma carga pode transitar de Bangladesh até o Canadá com todos os detalhes rastreados, como a temperatura dos armazéns até os portos em todo o mundo. Se houver uma interrupção dessa cadeia em qualquer lugar, essa informação é registrada e disponibilizada às partes interessadas.

A Blockchain poderia fornecer uma custódia segura dos itens conforme avançam pela cadeia de suprimentos, eliminando quaisquer argumentos e suposições sobre essa questão. Isso também poderia reduzir significativamente o custo dos produtos em trânsito por conta de menores despesas de documentação. Para os próximos anos, Meyrick afirma que a estimativa do custo máximo da documentação comercial necessária para processar e administrar esses produtos é de 1/5 dos custos de transporte. Se as empresas pudessem reduzir sua carga administrativa utilizando blockchain ou tecnologia semelhante, essa eficiência adicional poderia aumentar o comércio mundial em 15%.

“A blockchain certamente terá implicações para o setor de logística,” afirma Tom O’Donnell, Líder de Logística da Aon. “Se olharmos para uma remessa internacional hoje, todas as mãos que a tocaram, todos os documentos envolvidos, taxas pagas e as inspeções feitas à medida que se desloca de A para B, há um enorme trabalho manual”. Enquanto as empresas, inclusive de logística, aumentam sua dependência da tecnologia, eventos como o WannaCry ressaltam a importância do aumento da segurança à medida que mais e mais processos migram para a nuvem.

Tecnologia Blockchain: Reconhecendo o Valor dos Dados

Muitas organizações reconhecem a importância dos dados e cada vez mais empresas encontram formas de implantar a tecnologia blockchain para reunir mais dados de suas cadeias de suprimentos e agir a partir desses dados. Uma delas é a FedEx, que já introduziu a tecnologia em suas operações diárias. A empresa se juntou à Aliança de Transportes em Blockchain (BiTA – Blockchain in Transport Alliance) e faz parte do conselho de normas da organização. Um programa piloto da FedEx encontra-se na criação de um registro de dados permanente para ser utilizado na resolução de conflitos entre clientes que enviam e recebem mercadorias.

Outra empresa de transporte a introduzir a tecnologia em suas operações é a AP Moller-Maersk. Com a IBM, criou o que tem sido a primeira plataforma eletrônica de remessas baseada em blockchain. O sistema é projetado para fornecer análises em tempo real sobre as remessas internacionais e, assim, digitalizar a cadeia de suprimentos.

O sistema desenvolvido pela IBM e pela Maersk também trará mais eficiência no registro de remessas, enviando informações automáticas e detalhadas às agências reguladoras, podendo substituir os registros em papel e os sistemas de documentos eletrônicos atualmente em uso. De acordo com as empresas, só as melhorias na retenção de registros podem economizar bilhões de dólares anualmente para o setor de navegação.

Segundo O’Donnell, as informações reunidas e contidas pelo novo protocolo de segurança também podem beneficiar os mercados de seguros que cobrem as cadeias de suprimentos. A capacidade de rastrear, com mais precisão, as exposições a riscos na cadeia de suprimento e a obtenção de dados em tempo real sobre a movimentação da carga deve reduzir os riscos do processo e permitir que as seguradoras compreendam melhor as exposições que estão cobrindo.

Como a Blockchain Reduz os Riscos da Cadeia de Suprimento?

O uso de blockchain em cadeias de suprimentos ainda pode estar no começo, mas seu potencial é claramente vasto, principalmente na redução das exposições aos riscos. “Empresas inovadoras já estão obtendo esses dados e encontrando formas de eliminar os riscos da cadeia de suprimento”, declara Meyrick.

Por exemplo, o processo manual atual de rastreamento e pagamento de impostos na entrada das mercadorias em um país é complexo e, as responsabilidades associadas a erros podem ser significativas. Erros de documentação podem responsabilizar despachantes aduaneiros não apenas por impostos não pagos, mas também por multas e taxas decorrentes de registros alfandegários incorretos.

Meyrick acrescenta: “É um processo muito complicado e é muito difícil ser bom nisso em todo o mundo”. Se as empresas puderem implementar todo o sistema de blockchain no processo, isso reduzirá os riscos significativamente”. O uso dessa tecnologia no processo alfandegário deve reduzir a frequência e a gravidade dos erros, além de poder reduzir os riscos da cadeia de suprimentos de outros setores também. Por exemplo, o Walmart e nove grandes empresas alimentícias se associaram à IBM para introduzir a tecnologia blockchain na cadeia de suprimentos de alimentos para aumentar a segurança alimentar e rastrear fontes de doenças transmitidas por alimentos.

A cadeia de suprimentos de alimentos pode ser particularmente complexa, pois os produtos saem das fazendas, passam pelos produtores de alimentos e chegam aos supermercados ou restaurantes e, por fim, ao consumidor. O Walmart e as empresas alimentícias enxergam a nova tecnologia como uma forma de rastrear os produtos ao longo de toda a cadeia e de manter esses registros detalhados. Entre outros benefícios, tal registro digital deve reduzir radicalmente o tempo e o esforço necessário para identificar a origem de doenças transmitidas por alimentos.

Segundo Meyrick, em geral, quanto maior o número de dados e maior a compreensão de suas exposições, melhor será a análise de risco. Com tais informações, a tecnologia blockchain pode melhorar consideravelmente a análise de risco da cadeia de suprimentos.

A Futura Revolução

Olhando para a ascensão do transporte em contêiner, O’Donnell observa que tais revoluções não aconteceram da noite para o dia, mas uma vez adquirindo impulso, a transformação aconteceu rapidamente. A introdução da tecnologia blockchain nas cadeias de suprimentos pode seguir um caminho semelhante.

Provavelmente, essa tecnologia será adotada mais rapidamente em segmentos específicos do setor de logística e em algumas regiões do mundo, explica O’Donnell. É provável que ela chegue às cadeias de suprimento nos EUA antes de algumas áreas da Ásia ou Europa Oriental, por exemplo.

Meyrick sugere que o momento para incluir a blockchain na cadeia de suprimentos já chegou. Também afirma que grandes empresas como a FedEx e a Maersk estão abrindo caminho, e seu uso deve se tornar mais comum em até cinco anos.

Existem problemas para serem solucionados antes que os benefícios dessa tecnologia na cadeia de suprimentos sejam totalmente percebidos. Entre eles, o desenvolvimento de padrões para tornar a tecnologia universalmente aplicável em todas as cadeias de suprimentos, algo que organizações como a BiTA e a FedEx estão trabalhando para criar. Além disso, para obter o valor máximo da blockchain, será necessário o comprometimento de todos os envolvidos ao longo da cadeia de suprimentos. Contudo, dado o potencial transformador da tecnologia, crer que a próxima revolução da cadeia de suprimentos já esteja em andamento é uma boa aposta.